segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Fogos por flores

Fogos por flores

    Existem coisas que jamais entenderemos à luz da razão. Conta uma antiga parábola, que certa vez um homem andando por extenso deserto, quase a morrer de sede, avistou uma fonte seca e empoeirada, ao se aproximar, constatou não haver água, em desespero, já ia se afastar, quando viu uma garrafa velha, fosca, cheia de água, pegando-a, leu um aviso em seu rótulo, que dizia: coloque esta água, pura e limpa no buraco superior da torneira, em seguida, aguarde por trinta segundos e abra a torneira, beba a fartar-se, porém, antes de fechá-la, encha novamente a garrafa, coloque-a no mesmo lugar, feche a torneira e siga seu caminho. Assim, fez o homem, antes de satisfazer sua necessidade, pôs-se a serviço da fé, em momento algum, ele duvidou que, beberia a água.
    Há dois anos, um homem que passava por duras provas financeiras, pois sua mulher foi embora, faltou alimento em sua casa, ele ficou sozinho, amargando aqueles momentos, quando lembrou que havia chegado o dia trinta e um de dezembro, o homem percebeu a alegria nas ruas, o cheiro de frutas frescas e os sonhos com o novo ano. Querendo sair de si mesmo, andou pela rua e passou por um buraco no muro da linha férrea, andou pelos trilhos e subiu em uma plataforma da estação, logo parou um trem, ele entrou na composição que partiu com destino a Central do Brasil. O homem desejava ver a queima de fogos em Copacabana. Ele estava usando uma bermuda branca, Camiseta azul, sem mangas e um chinelo velho. Estava pronto.
    Ao chegar a Central, saiu e andou pela Presidente Vargas, entrou pela Rio Branco e seguiu em direção a Cinelândia, passando pelo Aterro do Flamengo, até chegar à Botafogo. Sob um sol quente, sentou em uma calçada alta, já era de tarde. O homem não tinha nada além de cansaço, calor e fome. Andou ainda por algumas horas e chegou à Copacabana. A noite estava próxima, a multidão chegava de branco, o sol esmaecia no horizonte e o mar suntuoso a tudo abraçava. O pobre homem entrou em um bar e pediu água, avistou um pacote azul sobre o balcão, não havia dono, fora deixado, esquecido. Ele pegou o pacote e leu um aviso no papel: “Solte para as estrelas, realize seus sonhos em cada brilho de luz.” Eram seis caixas de foguete.
O homem abraçou-se ao pacote, um só tinha o outro no mundo. Ele poderia vender os fogos e abrandar sua dor, poderia também dar a alguém, pois, quase nada lhe adiantaria na solução de seus problemas, por fim poderia se jogar no esquecimento, viver a fuga de um amanhecer e soltar os fogos, bebendo cada brilho com alma de quem sonha, na esperança de um amanhã melhor. Até meia-noite, ele decidiria.
    As horas passavam na ampulheta da espera e a noite plena, cravejada de brilhantes reinava sobre a brisa do mar. O homem e seu pacote azul, ele olhava a praia como estivesse abraçando o próprio céu.
    Lembrei da fonte do deserto, da fé do andarilho. Confesso que torci para que o homem soltasse os fogos no réveillon, mas aguardei o prosseguimento da narrativa para saber.
    Uma menina parou diante do homem e perguntou-lhe o preço dos fogos, o homem surpreso falou o que veio em seu pensamento. Disse que custava um brilhante. A menina saiu confusa e chamou a mãe e o pai, comentando do ocorrido. O pai da menina perguntou: “Que brilhante é este que o senhor quer? “O brilhante da esperança de um dia melhor.” Respondeu o homem. O pai da menina ficou impressionado com a resposta e perguntou sobre a vida do homem, que conversou sobre as dificuldades. A família emocionada ficou brilhante nos olhos e por fim, o pai da menina fez uma proposta ao homem. “Troque seus fogos por flores, dou-lhe um jardim para você cuidar, será um jardineiro de brilhantes, lhe pagarei um salário e moradia em troca de seu serviço. O homem emocionou-se ao ouvir a proposta, agora ele que tinha brilhantes nos olhos. Logo foi reconhecido por ser um homem bom e sincero, digno de ser feliz. Quando chegou meia-noite, o homem e a família amiga soltaram os mais belos fogos da praia, cada brilho descia como cascata de flores sobre o mar.
    Quero dizer do quanto gostei do desenrolar deste texto e dizer que não devemos jamais perder a esperança e a fé. Os fogos foram soltos nas estrelas e o novo ano chega sempre com esperanças de um tempo melhor. Desejo a todos feliz ano novo, que seus brilhantes sempre brilhem na prosperidade de uma vida digna e plena.

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